A sexta edição do Fórum para tratar da
questão dos adolescentes e jovens privados de liberdade, realizado pela
Arquidiocese do Rio, será no dia 11 de novembro, no Edifício João Paulo II, na
Glória. Uma das pautas será o início da assistência religiosa no Departamento
Geral de Ações Socioeducativas (Degase), que em 2015 completa 18 anos de
atividade.
O fórum tem como objetivo reunir autoridades
da área da aplicação das medidas socioeducativas para os jovens que cometem
atos infracionais, a fim de proporcionar um debate sobre a situação desses
jovens.
“Nossa intenção é encontrar ideias e
propostas para humanizar o sistema socioeducativo. Hoje vivemos uma situação
complicada, porque as unidades do Degase estão superlotadas e isso cria
situações muito difíceis para a reeducação do jovem. Por exemplo, em um
alojamento onde cabem seis meninos, de 15 a 20 jovens vivem em situação
bastante desumana”, explicou o coordenador da Comissão de Assistência Religiosa
ao Menor Privado de Liberdade, diácono Roberto José dos Santos.
Os participantes do fórum, convocados pelo
arcebispo do Rio, Cardeal Orani João Tempesta, são a juíza responsável pela 2ª
Vara da Infância e da Juventude, que aplica as medidas de privação de liberdade
e outras medidas constantes no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA),
representantes da Defensoria Pública que atuam nas Varas da Infância, a juíza
coordenadora das Varas da Infância do Estado do Rio de Janeiro, a OAB, o
Ministério Público e a comissão arquidiocesana responsável pela assistência religiosa.
“A realização desse fórum é a colaboração que
a Igreja pode dar ao reunir pessoas que têm a responsabilidade da garantia dos
direitos humanos e fundamentais desses jovens que cometeram atos infracionais,
mas que merecem e têm o direito de ter a oportunidade de recomeçar a própria
vida”, afirmou o diácono.
Devido à proximidade do Ano Santo da
Misericórdia em 2016, Dom Orani propôs o início de um trabalho de
acompanhamento de jovens que deixaram o sistema socioeducativo para que, em
liberdade, possam ter oportunidades e ser ajudados em todas as etapas da
reintegração social.
“Estamos buscando contato com paróquias para
que leigos que atuam na área da Caridade Social possam acompanhar o serviço de
reintegração desses jovens à família e à sociedade”, concluiu o coordenador.
Proximidade
Para Wellington Rodrigues Rosa, de 43 anos,
há cinco assistente religioso no Educandário Santo Expedito, em Bangu, o grande
desafio na aplicação da medida socioeducativa é a realização de um trabalho em
conjunto com o Estado. Porque quando eles estão dentro do educandário, os
jovens têm acesso a ensino, atendimento médico, entre outras coisas, mas,
quando saem, a realidade é outra.
“Após a saída, eles vão conviver com uma
família violenta, desestruturada... Uma vez me espantei com um jovem que pediu
para que eu rezasse pela avó dele. Pensei que ela estivesse doente. Quando
perguntei, ele me disse que não, que ela estava detida no presídio de mulheres.
Aquilo me espantou muito, porque não era essa a imagem que eu tinha de avó. Eu
tinha para mim a imagem de uma senhora que ensina a rezar o Pai Nosso, a Ave
Maria... E a avó daquele jovem também estava dentro do sistema penitenciário”,
assinalou.
Segundo ele, um dos fatores importantes para
se debater no fórum é o trabalho de aproximação do Estado com essas famílias,
por meio da ação dos Conselhos Tutelares, de um serviço de assistência social,
entre outros, para que o jovem não ingresse no sistema socioeducativo. E, se
ingressar, que tenha seu direito de ressocialização garantido.
O rosto de Jesus
Wellington contou que começou no serviço de
assistência por causa do chamado que Jesus faz na Bíblia, na passagem que diz
“estive na cadeia e fostes me visitar”. Para ele, nessa mensagem, Jesus convida
a realizar o trabalho pastoral e a levar a mensagem do amor de Deus como fonte
de ressocialização desses menores privados de liberdade.
“Nós queremos ser para cada um deles uma
setinha do amor de Deus que vai tocar o coração. Um dia, quando estávamos
chegando, um rapaz disse que nem tinha ido à escola para nos esperar. Então
percebi o quanto é importante estarmos ali para falar sobre a misericórdia de
Deus. Porque essa misericórdia não vem para julgar, mas para acolher e
transformar. E são muitas as realidades em que recebemos deles mais do que
damos. Sabemos que é Jesus que está presente ali”, frisou.
Ele criticou o fato de que 90% do contingente
carcerário serem provenientes de comunidades carentes, pois não acredita que
este seja o único ambiente onde existam menores infratores.
“Como se só existissem jovens infratores
dentro de comunidade, e não dentro da classe média e da classe média alta”,
lembrou ele. “Alguns jovens sequer têm família. Uma vez me espantei com um que
tinha acabado de sair e voltou. Quando fui perguntar como foi recebido pelos
pais em casa, ele me disse que não tinha pai nem mãe, que vivia nas ruas. É a
realidade de muitos desses jovens”.
Wellington explicou que o trabalho se baseia
em tentar fazê-los compreender que o fato de os jovens estarem naquela situação
pode ser uma forma que Deus encontrou para fazer um resgate na vida deles.
“Às vezes as pessoas me perguntam se não
tenho medo de ir até lá e eu respondo que não. Porque quando olho o rosto
daquele jovem, eu vejo um filho, um sobrinho. Eles não têm o rosto diferente de
nenhum dos que estão aqui fora. O grande problema desses jovens é que muitas
das vezes, eles não tiveram oportunidade para viver uma situação diferente”,
concluiu.
Serviço
Para se tornar assistente religioso da
Comissão de Assistência Religiosa ao Menor Privado de Liberdade é necessário
ser maior de 18 anos, vinculado a uma paróquia, ter vivência na Igreja e ter a
aprovação do pároco. Os interessados devem entrar em contato com a comissão
através da Pastoral do Menor pelo telefone 2292-3132, ramal 333. O processo de
seleção consiste em entrevista e curso de formação.
Foto:
Gustavo de Oliveira
Fonte:
http://arqrio.org/noticias/detalhes/3788/forum-sobre-jovens-privados-de-liberdade
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