D.
Orani João Tempesta
Cardeal
Arcebispo do Rio de Janeiro
Iniciamos o mês de outubro, e como alguns
meses são muito expressivos e temáticos na Igreja no Brasil, o de outubro não é
diferente. Mês do Rosário, dedicado às missões, convocando todo o povo de Deus
a se fazerem missionários do Evangelho, que se inicia com a Semana Nacional da
Vida e a celebração da Rainha e padroeira do Brasil, Nossa Senhora Aparecida;
mês que rezamos pelas nossas crianças, para que tenham um futuro resguardado
pela fé e esperança. Enfim, muitos são os motivos para rendermos graças ao Pai
neste mês que se inicia, mas uma intenção especial requer nossa atenção, pois
entre os dias 3 e 28 estará acontecendo, em Roma, o Sínodo dos Bispos sobre a
Juventude, com o tema: “Os jovens, a fé e o discernimento vocacional”.
O tema foi estabelecido após uma consulta às
Conferências Episcopais, às Igrejas Orientais Católicas, a União dos Superiores
Gerais e a sugestão dos padres da última Assembleia Sinodal. Reúne, num único
tema, as preocupações de bispos, padres, religiosos e religiosas, e até das Igrejas
Orientais que representam um grande número de homens e mulheres preocupados com
a evangelização dos jovens.
Pesquisas revelam que um bilhão e 800 mil
pessoas entre 16 e 29 anos, isto é, ¼ da Humanidade, são os jovens do mundo. Só
os números nos causam perplexidade, pois como anda a vida de fé e de
compromisso comunitário desses jovens? No Instrumento de Trabalho do Sínodo, os
padres sinodais puderam encontrar a descrição de sua variedade, suas esperanças
e dificuldades, pois foi um momento de convergência da escuta de todos os
componentes da Igreja e também de vozes que não pertencem a ela.
O Documento Preparatório, elaborado para
consultar a Igreja no mundo inteiro, inicia dizendo que “através dos jovens, a
Igreja poderá ouvir a voz do Senhor que ressoa, inclusive nos dias de hoje. (…)
ouvindo as suas aspirações, podemos entrever o mundo de amanhã que vem ao nosso
encontro e os caminhos que a Igreja é chamada a percorrer”. O Papa também ouviu
os jovens reunidos na semana anterior ao Domingo de Ramos, tanto
presencialmente como virtualmente. Tudo isso foi acrescentando dados ao
documento preparatório para a elaboração do instrumento de trabalho.
Esse material, enviado a todas as dioceses do
mundo, foi estruturado em três partes: reconhecer, interpretar e escolher,
buscando oferecer as chaves de leitura da realidade juvenil, baseando-se em
diferentes fontes, entre as quais um questionário on-line que reuniu as
respostas de mais de cem mil jovens.
Depois de viver neste último final de semana
um belo encontro com os jovens da região junto aos Arcos da Lapa, aqui no Rio
de Janeiro, e em preparação ao Dia Nacional da Juventude, somos chamados a
refletir e a rezar juntos para que este tempo dedicado aos jovens nos ajude a
esclarecer os caminhos a serem percorridos para que, jovens evangelizados,
sejam sinais e evangelizem outros jovens.
A primeira parte trata dos “Jovens no Mundo
de Hoje”, mundo que se transforma rapidamente em todos os sentidos. Este mundo
que é multicultural e multirreligioso. Por ser de diferentes tradições
religiosas, representa um desafio e uma oportunidade: pode aumentar a
desorientação e a tentação ao relativismo, mas, ao mesmo tempo, cresce a
possibilidade de confronto fecundo e de enriquecimento recíproco. A questão da
multiculturalidade aparece nas chamadas “segundas gerações”, ou seja, jovens
que crescem numa cultura diferente daquela em que cresceram seus pais. É o
forte movimento migratório pelo mundo afora. Aos olhos da fé parece que este é
um sinal do nosso tempo, o qual exige um crescimento na cultura da escuta, do
respeito e do diálogo, enfim, da cultura do encontro. Outros elementos de
análise que o texto sugere: Como vivem os jovens nas diversas partes do mundo?
Como é trabalhada a inclusão dos jovens? Grande desafio representa o grande
número de jovens que “nem estudam, nem trabalham, nem se educam para uma
profissão”. Quais são as referências para os jovens que sejam próximas,
credíveis, honestas?
Portanto, ao querermos responder esses
desafios lançados pelo Papa Francisco, outros, de nossa realidade, também vão
nascendo: o que querem os jovens de hoje? Sobretudo, o que buscam na Igreja? Em
primeiro lugar, desejam uma “Igreja autêntica”, que brilhe por “exemplaridade,
competência, corresponsabilidade e solidez cultural”, uma Igreja que
compartilhe “sua situação de vida à luz do Evangelho, ao invés de fazer
pregações”, uma Igreja que seja “transparente, acolhedora, honesta, atraente,
comunicativa, acessível, alegre e interativa”. Enfim, uma Igreja “menos
institucional e mais relacional, capaz de acolher sem julgar previamente, amiga
e próxima, acolhedora e misericordiosa”.
Há também quem não pede nada à Igreja ou pede
que seja deixado em paz, considerando-a uma interlocutora não significativa ou
uma presença que “incomoda e irrita”. Um motivo para essa atitude está nos
casos de escândalos sexuais e econômicos, como bem nos recordou o Santo Padre
dias atrás, sobre os quais os jovens pedem à Igreja que “reforce sua política
de tolerância zero”. Outro motivo está no despreparo dos ministros ordenados e
na dificuldade da Igreja em explicar o motivo das próprias posições doutrinais
e éticas diante da sociedade contemporânea.
Diante desses e outros desafios emergentes na
evangelização de nossos jovens, devemos ter nítidos alguns métodos que podem
nos ajudar nesse campo tão fértil e laborioso. A escuta: os jovens querem ser
ouvidos com empatia; Acompanhamento: espiritual, psicológico, formativo,
familiar e vocacional; Conversão: seja de tipo religioso, sistêmico, ecológico
e cultural; Discernimento: uma das palavras mais usadas no documento, seja no
sentido de uma “Igreja em saída” para responder às exigências dos jovens, seja
como dinâmica espiritual; Desafios: discriminações religiosas, racismo,
precariedade no trabalho, pobreza, dependência de drogas e álcool, bullying,
exploração sexual, corrupção, tráfico de pessoas, educação e solidão; Vocação:
repensar a pastoral juvenil; Santidade: o documento se concluiu com uma
reflexão sobre a santidade, “porque a juventude é um tempo para a santidade”.
Que a vida dos santos inspire os jovens de hoje a “cultivar a esperança” para
que – como escreve o Papa Francisco na oração final do documento – os jovens,
“com coragem, tomem as rédeas de sua vida, almejem as coisas mais belas e mais
profundas, e mantenham sempre um coração livre”.
Não podemos esquecer a Conferência de Puebla,
no México, em (1979), que assinalou: “Lembremos que a opção preferencial,
definida em Puebla, é dupla: pelos pobres e pelos jovens. É significativo que a
opção pela juventude seja, de maneira geral, totalmente silenciada”. Essa
constatação é sintomática e nos leva a repensar seriamente sobre as práticas
pastorais que tivemos no passado e o porquê do “silêncio” na atenção que
deveria ter sido dada à juventude.
A convocação do Sínodo é uma atitude querida
pelo Papa Francisco, que nos trará questões fundamentais para toda a vida
pastoral da Igreja, nesta opção que a mesma Igreja é agora universalmente
chamada a assumir. Não será um evento sem perspectivas, mas, ao contrário, nos
trará incentivos e possibilidades de amadurecimento na ação missionária junto à
juventude. O empenho de todos os que compõem o povo de Deus é condição sem a
qual essa atenção, maternal e acolhedora, não terá o êxito querido pelo Santo
Padre. Desde já, unamos nossa torcida para que o Sínodo projete luzes para
compreendermos mais profundamente os muitos aspectos relevantes do mundo dos
jovens e, assim, podermos levar a eles o Evangelho.
Fonte:
http://arqrio.org/formacao/detalhes/2353/jovens-uma-opcao-preferencial