Por Dom Orani João Tempesta, O.Cist.
Arcebispo da Arquidiocese do Rio
Entre as alegrias dos encontros de comunicação que tivemos a oportunidade de hospedar nas últimas duas semanas, acrescentamos o 50º Curso de Canto Pastoral. Cantar a Liturgia é também comunicação! Este ano ele foi dedicado ao Mons. Amaro Cavalcante de Albuquerque Filho, que o iniciou aqui no Rio de Janeiro. Foram muitos encontros nesse mesmo estilo espalhados pelo Brasil na década de 60. Esses cursos, frutos do "movimento litúrgico", antecedeu, preparou e concretizou, posteriormente, o Concílio Vaticano II. Ele conta com uma parte teórica e formativa e outra de ensaio das novas melodias que a cada ano enriquecem o repertório musical de nossa Igreja. Mas o Canto Litúrgico é também catequético. Ele supõe e educa a fé.
O desafio da Igreja é a evangelização do mundo de hoje, mesmo em territórios onde a Igreja já se encontra implantada há mais tempo. Nossa realidade pede uma nova evangelização. A catequese coloca-se dentro desta perspectiva evangelizadora, mostrando uma grande paixão pelo anúncio do evangelho. Entrar no Mistério Pascal supõe uma catequese aprofundada. Talvez a grande dificuldade hoje seja justamente essa! Não bastam apenas as adaptações exteriores; é importante um aprofundamento da fé no Mistério Eucarístico.
Por isso seria importante que, como consequência dos encontros de Comunicação (Seminários dos Bispos e Mutirão Brasileiro de Comunicação) e do Jubileu de Ouro dos Encontros de Canto Pastoral, que pudéssemos estar nos comprometendo ainda mais com a Iniciação Cristã para uma catequese que aprofunde a fé de nosso povo.
Sendo o anúncio de Jesus Cristo um momento da evangelização (querigma), a catequese é um modo, dando-lhe continuidade. Sua finalidade é aprofundar e amadurecer a fé, educando o convertido para que se incorpore à comunidade cristã. A catequese sempre supõe a evangelização. Por sua vez, à catequese segue-se o terceiro momento: a ação pastoral para os fiéis já iniciados à fé, no seio da comunidade cristã através da formação continuada. Catequese e ação pastoral se impregnam do ardor missionário, visando à adesão mais plena a Jesus Cristo.
A atividade da Igreja, de modo especial a catequese, traduz sempre a mística missionária que animava os primeiros cristãos. A catequese exige conversão interior e contínuo retorno ao núcleo do Evangelho (querigma), ou seja, ao mistério de Jesus Cristo em sua Páscoa libertadora, vivida e celebrada continuamente na Liturgia. Sem isso, ela deixa de produzir os frutos desejados. Toda ação da Igreja leva ao seguimento mais intenso de Jesus e ao compromisso com seu projeto missionário.
A Liturgia é comunicação, mas é também catequese. Por isso, junto com o primeiro anúncio, sempre temos que nos preocupar com o aprofundamento da fé.
O fruto da evangelização e da catequese é o fazer discípulos: acolher a Palavra, aceitar Deus na própria vida, como dom da fé. Há certas condições da nossa parte, que se resumem em duas palavras evangélicas: conversão e seguimento. A fé é uma caminhada, conduzida pelo Espírito Santo, a partir de uma opção de vida e uma adesão pessoal a Deus, através de Jesus Cristo, e ao seu projeto para o mundo. isso supõe também uma aceitação intelectual, um conhecimento da mensagem de Jesus. O seguimento de Jesus Cristo realiza-se, porém, na comunidade fraterna. O discipulado, que é o aprofundamento do seguimento, implica renúncia a tudo o que se opõe ao projeto de Deus e que diminui a pessoa. Leva à proximidade e intimidade com Jesus Cristo e ao compromisso com a comunidade e a missão.
A catequese é, em primeiro lugar, uma ação eclesial: a Igreja transmite a fé que ela mesma vive, e o catequista é um porta-voz da comunidade e não de uma doutrina pessoal. A catequese faz parte do ministério da Palavra e do profetismo eclesial. O catequista é um autêntico profeta, pois pronuncia a Palavra de Deus, na força do Espírito Santo. Fiel à pedagogia divina. a catequese se ilumina e revela o sentido da vida.
A catequese comunica uma experiência de vida, um compromisso de fé, um caminho de seguimento. "O que existia desde o princípio, o que ouvimos, o que vimos com os nossos próprios olhos, o que contemplamos, o que nossas mãos tocaram acerca da palavra de vida..., isto vo-lo anunciamos, a fim de que estejais unidos a nós" (cf 1Jo 1,1-3).
A catequese, mais do que transmitir verdades, comunica uma mensagem de vida, de fé, de compromisso com Deus, consigo mesmo, com o irmão e com a comunidade.
A catequese acontece através da intercomunicação pessoal e através da comunicação grupal como exercício de vida comunitária e partilhada.
A catequese agora necessita avançar para o uso dos equipamentos modernos de comunicação. As novas gerações nascem dentro da tecnologia.
A catequese na sua missão de fazer ecoar a mensagem da Boa Nova de Cristo deve criar instrumentos que garantam um processo de comunicação participativo e circular; valorizar a presença na comunidade local dos catequistas com uma formação especial no campo da comunicação. A Igreja deve estar atenta às perspectivas que se abrem no campo da educação à distância.
O educador na fé procura continuar a missão iniciada por Jesus guiado pelo Espírito Santo. Este serviço na Igreja é de fundamental importância. A Igreja valorizando o ministério dos catequistas atesta que serviço mais belo que do o catequista que anuncia a Palavra divina, que se une com amor, confiança e respeito ao próprio irmão, para ajudá-lo a descobrir a realizar os desígnios providenciais de Deus sobre ele. Eis que a missão do catequista consiste também em fomentar que as nossas comunidades sejam mais acolhedoras e catequizadoras.
O catequista é um anunciador da Palavra, alguém que procura de fato vivenciá-la no dia a dia. Seu testemunho é fundamental, pois não se pode separar a fé da vida quotidiana. O educador na fé tem uma tarefa extremamente árdua e delicada, porque a catequese não é um simples ensino, mas a transmissão de uma mensagem de vida, como jamais será possível encontrar em outras expressões do pensamento humano. Quem diz: 'mensagem', diz algo mais do que doutrina. Quantas doutrinas jamais chegam a ser mensagem! A mensagem não se limita a expor ideias; ela exige uma resposta, pois é interpelação entre pessoas, entre aquele que propõe e aquele que responde. A mensagem é vida. Cristo anunciou a Boa Nova, a salvação e a felicidade. Por ser uma mensagem de vida, é que a Igreja catequiza o povo.
A catequese nos últimos anos deu passos significativos. Em toda parte percebe-se um fervilhar de novas experiências e métodos mais adequados que nos orientem na caminhada. Este processo de renovação depara-se com alguns desafios: a catequese não pode ser uma simples iniciativa baseada na boa vontade, na improvisação. Disso decorre a necessidade de pensar, organizar e atualizar a catequese, buscar novos areópagos, animar os catequistas, criar um clima humano-afetivo. Surge, assim, a missão da Igreja do qual depende, em grande parte, a dinâmica e a renovação da catequese numa comunidade. Não tenha medo e avance nas águas mais profundas, atendendo ao apelo de Cristo e da Igreja, de anunciar o Evangelho e catequizar os homens e mulheres de boa vontade.
Testemunho de Fé (nº 702)
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