quarta-feira, 14 de novembro de 2012

O protagonismo da juventude no Ano da Fé




† Orani João Tempesta,
O. Cist. Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ

Estamos vivenciando com toda a Igreja a celebração do Ano da Fé convocado pelo Santo Padre Bento XVI, cuja vivência se estenderá até o mês de novembro de 2013. O objetivo da convocação de todo um ano de celebrações dedicado a esse tema tem por finalidade inserir a temática da Fé numa perspectiva de redescoberta do valor que ela possui, para assim contextualizar a importância da comemoração dos dois grandes acontecimentos celebrados pela Igreja nos últimos anos: o 50º aniversário da abertura do Concílio Vaticano II (1962-1965) e o 20º aniversário da promulgação do Catecismo da Igreja Católica.

O Concílio Vaticano II, como sabemos, foi uma sábia e necessária contextualização da Igreja em sua missão de “anunciar a Boa-Nova a todas as nações” (cf. Mc 16,15). Tratou-se de um aggiornamento, no dizer do Beato João XXIII, que promoveu na Igreja uma atualização de seu papel na sociedade, renovando sua pastoral no intuito de realizar melhor sua missão profética no mundo. O Catecismo da Igreja Católica, por sua vez, seguindo os passos do Concílio no tocante à explicitação clara e objetiva do conteúdo do Depósito da Fé, procurou também expor a perene Doutrina Católica, atualizando a linguagem por meio da qual ela é exposta e enfatizando sua essência, bem como iluminando e transmitindo o conteúdo da Fé Cristã frente às questões da atualidade. Deste modo, tanto o Concílio Vaticano II quanto o Catecismo da Igreja Católica tiveram um primordial objetivo: sublinhar a essência da Fé Cristã para melhor testemunhá-la na sociedade contemporânea. O anúncio da salvação em Cristo constitui a essência da Igreja e é por meio dele que ela realiza sua missão de santificar a humanidade.

Será muito importante que aprofundemos o conhecimento de nossa fé tomando em nossas mãos o youcat, versão jovem do catecismo. Tanto poderia ser estudado na sequência em que foi impresso como através dos temas que as (arqui)dioceses sugerem para cada mês. A juventude é chamada a dar as razões de sua fé. Porém essa fé deve ser vivida intensamente, e com alegria.

Atualmente, percebemos com muita clareza que a nossa sociedade encontra-se gravemente transformada; vivemos em meio a uma mudança radical de conduta, que é fruto da inversão dos valores fundamentais do ser humano e da indiferença à religiosidade, diante da qual a Igreja é novamente chamada a manifestar a resposta cristã diante dos desafios que parecem estabelecer um “divórcio” entre a Fé e a sociedade moderna. 

Entretanto, ainda que em meio a este ambiente de transformações, “não podemos esquecer que, no nosso contexto cultural, há muitas pessoas que, embora não reconhecendo em si mesmas o dom da Fé, todavia vivem uma busca do sentido último e da verdade definitiva acerca da sua existência e do mundo” (Porta Fidei, n. 10). Dentre estas pessoas, sem dúvida a juventude vive intensamente essa busca. Bombardeada pelas ideologias que a sociedade contemporânea difunde e nas quais fundamenta seus valores, a juventude vive essa busca da verdade e do sentido último acerca de si mesmo e do mundo, e em cada jovem ressoa a necessidade de conhecer a si mesmo e de transcender à descoberta do absoluto. Apesar das revoluções e transformações das últimas décadas, tais como a globalização, os progressos sempre crescentes dos meios de comunicação, a liberdade de expressão, e tantas outras mudanças no contexto cultural, permanece sempre viva na juventude a busca pelo que está além de tudo isso, pelo que a preenche de maneira completa, por aquilo que lhe permite vivenciar o absoluto. Aliás, essa busca é de todo o ser humano.

Nesta busca da juventude imersa numa sociedade regida por valores tão contraditórios, aos quais ela termina às vezes por aderir levada pela corrente do relativismo exacerbado, abre-se como outrora aos gentios a porta da Fé (cf. At 14,27), que introduz na vida de comunhão com Deus e permite a entrada na sua Igreja (cf. Porta Fidei, n.1). Uma vez adentrando por essa porta da fé, o jovem descobre a maravilha deste dom sobrenatural que ela é e inicia a vivência dos frutos de renovação interior que o mesmo dom da fé origina.

O primeiro fruto, certamente, é a resposta para as indagações sobre o sentido último e sobre a verdade definitiva acerca da sua existência e do mundo. Em Deus, que é a Verdade, contemplamos a verdade acerca de todas as coisas, pois Ele nos revela a verdade sobre nós mesmos em Cristo Jesus, dando-nos a compreender aquilo que não nos é acessível apenas pela razão. Esta descoberta, em se tratando da juventude, promove um resultado magnífico: o jovem, uma vez pleno do entusiasmo que a própria juventude lhe assegura, ao descobrir a verdade que é Deus, revelada plenamente em Cristo, não a toma apenas para si mesmo, mas vê-se impelido a transmiti-la aos demais jovens e assim a todos que vivem à sua volta. Essa é a experiência dos primeiros cristãos, que uma vez abraçando a Fé, descobriram que Deus é a verdade de todas as coisas e que n’Ele está a resposta para todas as nossas indagações.

Essa experiência de Deus, que leva o jovem a irradiá-la aos demais, é precisamente o segundo fruto que podemos colher ao adentrar a porta da Fé. Ela constitui a finalidade do Ano da Fé, ou seja, o testemunho. Mais do que sempre, testemunhar digna e verdadeiramente a Fé Cristã é uma necessidade dos últimos tempos, pois a nossa juventude tem sede de inovações, e esta sede também é sentida no âmbito da Fé. Disso surge a pergunta que certamente ecoa no coração dos pastores da Igreja, que ecoou nesse Sínodo dos Bispos sobre a Nova Evangelização que acabamos de celebrar, e que ecoará durante este Ano da Fé: como tornar a Fé uma experiência atrativa para aqueles jovens que ainda não puderam adentrar pela porta da Fé e assim conhecer a Verdade?

O Cristianismo é uma experiência pessoal com Cristo, que se comunica conosco e nos leva naturalmente a comunicar esta experiência, ou seja, a testemunhar a maravilha desse encontro pessoal. Trata-se de transparecer a maravilhosa aventura de crer, de evidenciar, por meio das várias circunstâncias da vida, que Cristo nada nos tira, antes nos doa tudo, e que por isso não é preciso temer a experiência com Ele.

Na simplicidade desses testemunhos de autêntica vida cristã, a mensagem de Cristo será evidenciada naturalmente a todos quantos d’Ele necessitam, e assim, a Fé será irradiada não somente como uma experiência meramente pessoal e individual, mas como uma ligação entre o ser humano e Deus, que estabelece uma fraternidade entre todos que por ela se deixam abraçar, renovando e dando sentido pleno à existência e respondendo às indagações mais profundas do íntimo de cada homem e de cada mulher. O protagonismo da juventude nesse testemunho ganha especial relevo à medida que os jovens são a esperança do amanhã e, por isso, uma vez deixados abraçar pela experiência do encontro pessoal com Cristo, irradiam a profundidade dessa experiência, estabelecendo assim uma fraternidade que, centrada no próprio Cristo, constrói uma sociedade transformada pela ação salvífica do Verbo de Deus, o próprio Cristo Jesus.

Em suma, neste Ano da Fé, todos somos chamados a testemunhar de maneira objetiva a Fé Cristã. Todavia, a juventude torna-se a protagonista deste testemunho à medida que nela estão centradas as expectativas acerca do amanhã. Por isso, que cada jovem viva intensamente sua vida cristã e fundamente-a por meio de uma sólida vida espiritual. Deste modo, é imprescindível que a juventude creia firmemente na Santíssima Eucaristia como fonte e ápice da vida cristã, e manifeste essa fé por meio da fiel e ativa participação nas missas dominicais. Que a juventude se reconheça sempre necessitada da misericórdia de Deus e por isso não hesite em reconhecer e recorrer ao Sacramento da Confissão sempre que necessário. E que, sobretudo, manifeste por meio da vida de oração a beleza e a alegria do encontro pessoal com Cristo, do diálogo entre Deus e nós, seus filhos. Assim, quando celebrarmos os grandes momentos deste Ano da Fé, dentre os quais a Jornada Mundial da Juventude Rio 2013, a Fé Cristã seja testemunhada tão eficazmente nas grandes proporções desse evento quanto o deve ser nas circunstâncias do dia-a-dia.

Nesta perspectiva, tenhamos todos a consciência, sobretudo os jovens, de que somente na amizade com Cristo se abrem de par em par as portas da vida, somente nesta amizade se abrem realmente as grandes potencialidades da condição humana, somente nesta amizade experimentamos o que é belo e o que liberta. Por isso, que a juventude não tenha medo de Cristo! Ele não tira nada, Ele dá tudo. Quem se doa por Ele, recebe cem vezes mais.
Que a juventude abra as portas a Cristo, assuma o protagonismo que o Ano da Fé lhe confia e encontre a vida verdadeira e a felicidade sem fim!

Nenhum comentário:

Postar um comentário