O crack foi um dos assuntos tratados
durante a reunião semanal do governo diocesano, que aconteceu no dia 18 de
setembro, no Edifício João Paulo II, na Glória.
Durante o encontro, que reuniu o
arcebispo Dom Orani João Tempesta, os bispos auxiliares e os vigários
episcopais, foi apresentado o relatório da “Pesquisa de Campo sobre Jovens em
situação de rua vulneráveis às drogas ilegais”, de autoria do professor da
Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Dário de Souza e Silva Filho,
realizada nos bairros de Cascadura e Madureira, no mês de julho, com o apoio da
empresa Wilson, Sons.
O objetivo foi subsidiar a
implementação do projeto “passaporte da cidadania”, semelhante ao projeto
nacional do ônibus “Caixa de Ferramentas”, voltado para a educação de jovens. A
pesquisa buscou caracterizar o cenário de vulnerabilidade a que estão expostos
jovens em situação de rua de 13
a 24 anos. Foi registrada a percepção e a fala dos
jovens vulneráveis quanto a sua trajetória, sua descrição de si mesmos e das
redes em que participam, o que define sua confiança ou desconfiança quanto às
políticas que procuram atendê-los.
Segundo o vigário episcopal para a
Caridade Social, cônego Manuel Manangão, a intenção é identificar o caminho que
precisa ser seguido para restaurar a dignidade dessas pessoas. “Na pesquisa, os
jovens disseram que quando a aproximação é feita por um grupo de pessoas de
algum grupo religioso a receptividade é melhor. Eles demonstraram respeito e reconhecem
o valor da religiosidade naqueles que se aproximam deles”, afirmou.
Os usuários denunciaram a violência
da abordagem feita pelo setor público e a realidade dos abrigos para onde são
levados. “Eles falaram muito sobre a presença de drogas em muitas das
instituições que teriam a missão de trabalhar na prevenção desse uso. Abrigos e
locais de tratamento são citados como locais onde a facilidade de conseguir a
droga se faz presente e, por isso, muitos deles permanecem lá. Entendemos que a
preocupação maior é com a retirada deles das ruas e não com a recuperação de
cada pessoa”, alertou.
O que fazer?
“A maioria desses jovens já tem
filhos e disse que não quer permanecer nessa realidade. Temos que ir ao
encontro deles, tentando escutar o que eles têm a dizer e, a partir daí, descobrir
uma forma de apresentar para eles um novo jeito de viver. As regiões onde
existem cracolândias são territórios paroquiais com capelas e igrejas.
Precisamos dar maior visibilidade aos trabalhos que estão sendo feitos”, motivou.
O cônego destacou que esse problema
não deve ser visto apenas por um ponto de vista. “Os aspectos são múltiplos.
Precisamos ver as questões familiares, a dependência química e a legislação que
envolve toda a realidade do menor e do adolescente em situação de risco. O
trabalho precisa ser feito em uma rede mais ampla, deve envolver todos os
setores da sociedade. Na execução do trabalho, além dos educadores, que são
pessoas treinadas para lidar com essa realidade, é preciso também ter o apoio
de centros com médicos, psicólogos e psiquiatras”, observou.
O vigário afirmou que devem ser
observadas as três fases do processo: prevenção maciça, acompanhamento dos
envolvidos com drogas e tratamento. “Nessa realidade temos família, Pastoral da
Juventude e catequese envolvidos dentro desse processo de evitar que o jovem
chegue a situação de dependência”, disse.
O próximo passo é elaboração de uma
rede com um centro de apoio, que vai trabalhar ao atendimento emergencial a
quem procurar socorro por ser usuário e com as comunidades terapêuticas que dão
a continuidade de acompanhamento a essas pessoas. “Ao mesmo tempo, temos a
possibilidade de ir ao encontro de quem já está nessas situação através do ‘Passaporte
da Cidadania’, que vai estar presente nas comunidades e escolas”, disse o cônego
Manangão.
Cláudia Brito – Jornal Testemunho
de Fé
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