quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Pesquisa revela perfil de jovens usuários de drogas



O crack foi um dos assuntos tratados durante a reunião semanal do governo diocesano, que aconteceu no dia 18 de setembro, no Edifício João Paulo II, na Glória.

Durante o encontro, que reuniu o arcebispo Dom Orani João Tempesta, os bispos auxiliares e os vigários episcopais, foi apresentado o relatório da “Pesquisa de Campo sobre Jovens em situação de rua vulneráveis às drogas ilegais”, de autoria do professor da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Dário de Souza e Silva Filho, realizada nos bairros de Cascadura e Madureira, no mês de julho, com o apoio da empresa Wilson, Sons.

O objetivo foi subsidiar a implementação do projeto “passaporte da cidadania”, semelhante ao projeto nacional do ônibus “Caixa de Ferramentas”, voltado para a educação de jovens. A pesquisa buscou caracterizar o cenário de vulnerabilidade a que estão expostos jovens em situação de rua de 13 a 24 anos. Foi registrada a percepção e a fala dos jovens vulneráveis quanto a sua trajetória, sua descrição de si mesmos e das redes em que participam, o que define sua confiança ou desconfiança quanto às políticas que procuram atendê-los. 

Segundo o vigário episcopal para a Caridade Social, cônego Manuel Manangão, a intenção é identificar o caminho que precisa ser seguido para restaurar a dignidade dessas pessoas. “Na pesquisa, os jovens disseram que quando a aproximação é feita por um grupo de pessoas de algum grupo religioso a receptividade é melhor. Eles demonstraram respeito e reconhecem o valor da religiosidade naqueles que se aproximam deles”, afirmou.

Os usuários denunciaram a violência da abordagem feita pelo setor público e a realidade dos abrigos para onde são levados. “Eles falaram muito sobre a presença de drogas em muitas das instituições que teriam a missão de trabalhar na prevenção desse uso. Abrigos e locais de tratamento são citados como locais onde a facilidade de conseguir a droga se faz presente e, por isso, muitos deles permanecem lá. Entendemos que a preocupação maior é com a retirada deles das ruas e não com a recuperação de cada pessoa”, alertou.

O que fazer?
“A maioria desses jovens já tem filhos e disse que não quer permanecer nessa realidade. Temos que ir ao encontro deles, tentando escutar o que eles têm a dizer e, a partir daí, descobrir uma forma de apresentar para eles um novo jeito de viver. As regiões onde existem cracolândias são territórios paroquiais com capelas e igrejas. Precisamos dar maior visibilidade aos trabalhos que estão sendo feitos”, motivou.

O cônego destacou que esse problema não deve ser visto apenas por um ponto de vista. “Os aspectos são múltiplos. Precisamos ver as questões familiares, a dependência química e a legislação que envolve toda a realidade do menor e do adolescente em situação de risco. O trabalho precisa ser feito em uma rede mais ampla, deve envolver todos os setores da sociedade. Na execução do trabalho, além dos educadores, que são pessoas treinadas para lidar com essa realidade, é preciso também ter o apoio de centros com médicos, psicólogos e psiquiatras”, observou.

O vigário afirmou que devem ser observadas as três fases do processo: prevenção maciça, acompanhamento dos envolvidos com drogas e tratamento. “Nessa realidade temos família, Pastoral da Juventude e catequese envolvidos dentro desse processo de evitar que o jovem chegue a situação de dependência”, disse.

O próximo passo é elaboração de uma rede com um centro de apoio, que vai trabalhar ao atendimento emergencial a quem procurar socorro por ser usuário e com as comunidades terapêuticas que dão a continuidade de acompanhamento a essas pessoas. “Ao mesmo tempo, temos a possibilidade de ir ao encontro de quem já está nessas situação através do ‘Passaporte da Cidadania’, que vai estar presente nas comunidades e escolas”, disse o cônego Manangão.

Cláudia Brito – Jornal Testemunho de Fé

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