quarta-feira, 2 de março de 2016

Questões nevrálgicas

D. Antonio Augusto Dias Duarte
Presidente da Comissão de Promoção e Defesa da Vida da Arquidiocese do Rio de Janeiro


Há questões que tocam as “terminações nervosas” da inteligência e da consciência das pessoas, que têm uma preocupação crescente com o que está acontecendo no Brasil e no mundo.
As notícias sobre a saúde pública e a segurança urbana, sobre a economia e os personagens da política, da Igreja Católica e de diversas instituições religiosas, etc. chegam diariamente a essas “terminações”, e confundem as mentes de pessoas que querem o bem do nosso país e esperam dos governos uma ordem mundial mais justa e pacífica.
Muitas pessoas, atualmente, sentem a dor aguda da perplexidade, ou a dor latejante da desesperança, ou a dor intermitente da incerteza, e, sobretudo, a forte e irradiante dor da dúvida: tudo que está acontecendo e que está sendo noticiado deve ser aceito ou não como verdadeiro e como um sinal do progresso da humanidade?
É preciso concordar que, a “doença do verão”, a Zika, que está assustando a população brasileira – especialmente as mães que estão gestando seus filhos ou que já deram a luz crianças com microcefalia –, segue as explicações dadas pelos governantes, pelo Ministério da Saúde do Brasil, pelas organizações internacionais (OMS, ONU), ou essas palavras explicativas serão mais uma das várias formas de manipulação da mente do nosso povo?
Deve-se assistir, como espectador atônito e indignado, as várias iniciativas de ONGs abortistas e as estratégias de fundações internacionais, que já estão se movimentando, a fim, de legitimar – juridicamente – mais uma permissão do aborto para essas crianças com microcefalia, cujo diagnóstico só é feito no último trimestre da gravidez?
Deve-se ficar passivo diante de reportagens geradas em agências internacionais de notícias e reproduzidas na mídia nacional, e que lançam no ar poeiras de dúvidas sobre a amizade sincera e pura de São João Paulo II com uma médica e filosofa polonesa desde que era arcebispo de Cracóvia?
É preciso ficar calados e omitir-se diante de tantas e tantas declarações feitas por pessoas do mundo político, artístico e até mesmo eclesiástico, que só confundem as consciências, sobretudo a dos jovens, desorientado-as sobre os valores fundamentais da ética, que constroem o caráter humano e, consequentemente, edificam uma sociedade mais humanizada e humanizadora?
Valores como a dignidade da pessoa humana, a inviolabilidade e a sacralidade da vida humana, o significado e a riqueza presente na sexualidade humana, a grandeza e a beleza da família construída sobre o amor total, fiel e fecundo entre um homem e uma mulher, a educação integral da mente, do coração e da liberdade das crianças, dos jovens, a indiscutível e inegável formação religiosa de cada cidadão, com toda a força das verdades e da ética que ensinam os diversos credos, etc., são as questões nevrálgicas, que tocando as “terminações nervosas”, fazem sofrer muitas pessoas, muitas vezes por causa da falta de palavras claras, orientadoras e firmes sobre cada um desses bens humanos e culturais.
Muitas das questões nevrálgicas que afligem grande parte do povo brasileiro da atualidade exigem atitudes corajosas, e entre elas vale a pena destacar a coragem de repelir as ideias falsas com ideais verdadeiros e atraentes.
Um desses ideais é para o de procurar, encontrar e formar homens e mulheres, adultos e jovens, que não queiram ser só pessoas corretas, mas que queiram ser líderes católicos, que aspirem ser pessoas de caráter, comprometidas, articuladas e bem unidas, a fim de criarem, todos juntos, uma força tarefa contra a cultura dominante de morte, contra o secularismo dominante, contra a ditadura do Relativismo, contra as ideologias destruidoras da família, contra a intolerância e perseguição religiosa, para que haja culturas e políticas favoráveis ao bem comum do Brasil e da sociedade mundial.
Trata-se de ter e de aumentar o número de homens e de mulheres, de famílias e de instituições de ensino, de paróquias e de movimentos e novas comunidades, preocupados e decisivamente ocupados em mudar a opinião pública, as políticas públicas, a educação publica, a moralidade pública, através de líderes bem formados na religião e nos valores morais.
Que pedagógica a inscrição gravada numa tábua de argila babilônica do século XI antes de Cristo: “A juventude de hoje está corrompida até o coração. É má, ateia e preguiçosa. Jamais será o que deveria ser, nem será capaz de preservar a nossa cultura”.
O império da Babilônia, bem como os grandes impérios da história, ruíram não por questões epidérmicas, mas por questões nevrálgicas, tais como a degradação moral da família, o desprezo moral pela vida, a corrupção das autoridades civis e religiosas, e, sobretudo, pela carência de líderes corajosos, religiosos comprometidos com a construção de um mundo melhor.

Muitas vezes, o nosso povo católico fica à espera de um artigo esclarecedor sobre as “questões nevrálgicas” que saltam à vista na mídia ou cobram palavras mais combativas dos erros cometidos pelas pessoas ou das distorções das palavras do Papa Francisco.
Mas, às vezes, é preciso ter também, nos meios católicos de comunicação, mais artigos exortativos e provocadores, que abram caminhos para as soluções das questões da atualidade.  Nessas linhas há um questionamento para os leitores: quantos líderes vocês conhecem na sua paróquia, na sua comunidade, capazes de preencherem três requisitos: pessoas de bem e que mudam o ambiente “fazendo o bem”, como Cristo passou pela vida fazendo o bem; pessoas tão religiosas, que saem da igreja com coragem e audácia para influenciarem na parte do mundo que Deus lhes recomendou – família, trabalho, vida social e cultural; pessoas que são competentes nas suas profissões, jovens que se destacam nos seus estudos, para serem assim – sábios e líderes –  o sal da terra, a luz do mundo e o fermento que faz crescer a massa?
Zika, aborto, calúnias, escândalos, corrupção, ideologias materialistas, injustiças sociais, desordens sexuais, famílias destruídas, etc... são “questões nevrálgicas doloridas”, que revelam uma outra dor que afetam as profundas “terminações nervosas” da Igreja e do mundo: são poucas as pessoas que abraçam o ideal de serem a liderança moral da sociedade; são poucas as pessoas que assumem o ideal de conduzir gente para a prática do bem e para a fidelidade e verdade!
“Essas crises mundiais são crises de santos”, escreveu São Josemaría, o santo do cotidiano (cf. Caminho, ponto 301), convidando, assim, a geração atual a abraçar o ideal de liderança própria dos santos, que jamais se conformaram – continuam não se conformando – com os pecados da humanidade. Querem ser santos, querem ser líderes na fé, na esperança e no amor, para que com Cristo, em Cristo e por Cristo, possam converter o mundo.
Você, caro (a) leitor (a) não quer fazer parte dessa geração de líderes santos, audazes e construtores da nova civilização do amor e da vida?

Fonte: Jornal Testemunho de Fé, página 13

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