Cardeal
Orani João Tempesta
Arcebispo
do Rio de Janeiro
Estamos a caminho da XV Assembleia Geral
Ordinária do Sínodo dos Bispos no Vaticano, Roma, que terá como tema: “Os
jovens, a fé e o discernimento vocacional”. Assunto importante para o momento
atual. Os jovens são chamados ao encontro com Cristo e a viver com alegria sua
vocação, seu chamado, principalmente sendo testemunha de Cristo Ressuscitado.
A humanidade, em sua essência, possui
dificuldade, em certos aspectos, de ouvir algo e colocá-lo em atitudes
cotidianas. Isso se demonstra através de toda história do povo de Deus
retratada na Bíblia. No Antigo Testamento, o cenário mostra um povo que ouve a
Palavra de Deus, através dos profetas, mas, passado certo tempo, esquece tudo
aquilo que lhe fora apresentado e volta a cometer os mesmos erros de outrora.
Isso se deu durante o Antigo Testamento, quase que por completo; entretanto,
com a vinda de Jesus Cristo, o Verbo se fez carne (Jo 1,14), e tudo aquilo que
haviam ouvido até então é realizado em fatos concretos. Isso facilitou o
entendimento do povo, que passou a executar a Palavra de Deus, e assim continua
até a atualidade, com a Sua graça.
“Exorto-vos a levardes uma vida digna da
vocação que recebestes” (Ef 4,1). Paulo dirige tal mensagem aos Efésios, povo
da Ásia menor (atual Turquia), para que criem coragem e anunciem a sua fé em
meio aquela terra. Recebemos, a cada dia, uma exortação para sermos testemunhas
dessa fé que recebemos dos apóstolos e a vocação para sermos discípulos
missionários. Vocação, do latim vocare, quer dizer chamado. Chamado esse a uma
vida de conversão, a uma vida de total entrega a serviço dos irmãos. Assim como
Jesus disse aos apóstolos, diz também a cada um de nós hoje: “Ide pelo mundo
inteiro e anunciai a Boa-Nova a toda criatura!” (Mc 16,15). Somos todos
missionários do Senhor, encarregados de pregar a todos os povos e nações.
A missão dita acima é algo muito complexo;
são várias as dificuldades enfrentadas. Porém, Platão já dizia em sua época: “O
começo é a metade do todo”. Por isso temos que dar os primeiros passos para
que, desse modo, se dê início a esse encargo. Mas como começar? Voltemos a
Jesus que, através de sua vivência, mostrou ao povo de sua época o modo com que
se deve agir para cumprir a vontade de Seu Pai. Tendo isso em mente, é
necessário um testemunho de todos, pois desse modo mostra-se aos demais o
caminho rumo a Deus. Caminho esse que está escrito, sendo pregado, contudo, o
ver é mais eficiente para as pessoas do que o ouvir.
É de extrema importância que tal exortação
citada se dê em meio à juventude. Juventude que passa por crises em sua fé e
identidade. Essa faixa etária é uma etapa de descobrimento e, acima de tudo,
questionamento. Por este motivo, um exemplo de total entrega a Deus, à Sua
vontade e ao serviço à Igreja, que se faz necessário para ajudar esse jovem a
passar por essa etapa. E por falta desse testemunho, infelizmente vemos em
nossas comunidades jovens que, ao passarem por um momento crítico, se perdem em
felicidades momentâneas oferecidas a todo o momento, através de uma cultura que
vem sido propagada. Ao vivenciarem o vazio, muitos caem em uma vida fútil ou a
tiram, decepcionados. Vivemos em uma sociedade onde se é estabelecido um tempo
para que as coisas se tornem obsoletas. O amor, por exemplo, se tornou um
produto.
Nossa juventude encontra-se diante desse
cenário. E, por conta disso, necessita-se de jovens que sejam testemunhas
de sua fé. Precisa-se de jovens que consolem, mas mostrando a face de Jesus
misericordioso e testemunhando a alegria da salvação em Cristo.
São Francisco de Assis, ao acatar ao chamado
de Deus, escolhe por viver a pobreza evangélica. Segundo o próprio santo, a
pobreza permitia a ele estar livre para cumprir a vontade do Altíssimo,
Onipotente e Bom Senhor, vivendo assim a Perfeita Alegria.
Por alguns de sua época, o jovem Francisco
tinha enlouquecido por conta da doença que adquiriu no período que ficou preso,
contudo, para outros, se tornou um exemplo. Isso mostra para nós hoje a
importância de se tomar a iniciativa. Podemos ser considerados loucos? SIM. Mas
o ganho com tudo isso é muito maior. São Francisco uma vez disse: “Pregue o
Evangelho em todo tempo. Se necessário, use palavras”. Ou seja, devemos não só
escutar e falar sobre a Palavra de Deus e, sim, vivenciá-la.
Jovens, vós tendes energia, vontade e ajuda
de Deus para tal missão. “Antes, como é santo aquele que vos chamou, tornai-vos
santos, também vós, em todo vosso proceder” (1 Pd 1,15). Pedro se dirigia ao
povo do norte da Ásia menor (atual Turquia), contudo esta mensagem é aplicada
para nós nos dias de hoje. Devemos cumprir a vontade de Deus em tudo o que
fazemos, para assim estarmos agindo de acordo com nossa fé e, assim também,
estarmos sendo testemunhas de quão bom é estar neste caminho de santidade, amor
e fé.
Que Nossa Senhora, que sempre foi um exemplo
de fé e total entrega a Deus com seu “sim”, interceda por nós junto ao Pai para
que consigamos, com a Sua graça, completar essa missão a que todos somos
chamados.
Fonte:
http://arqrio.org/formacao/detalhes/1798/jovens-testemunhem-publicamente-sua-fe
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