quarta-feira, 9 de agosto de 2017

Padre Leandro Lenin: ‘O trabalho realizado em conjunto sempre dá mais frutos’

Por ocasião do Dia do Padre, na memória de São João Maria Vianney, 4 de agosto, apresentamos a vida e ministério do jovem padre Leandro Lenin Silva Tavares Cardoso.
Após cinco anos de intenso ministério na Arquidiocese do Rio de Janeiro, ele embarcou, no dia 14 de julho, para uma nova missão: cursar mestrado e doutorado na Universidade de Navarra, em Pamplona, na Espanha. A dedicação e o amor a Deus são características que sempre remeterão à lembrança do jovem sacerdote, que segue realizando as vontades de Cristo em sua vida.

O despertar vocacional
O amor pela vocação sacerdotal surgiu ainda na adolescência, quando a família frequentava a Paróquia São Benedito, em Pilares, onde a disponibilidade e o serviço realizado pelo então pároco, padre Luis Carlos Oliveira, despertavam no jovem o desejo de também servir a Deus cada dia mais e melhor.
O florescer da vocação veio durante a mudança da família para o bairro do Recreio. Na Paróquia Imaculada Conceição, o pároco, padre Edney Gouvêa, hoje bispo da Diocese de Nova Friburgo, foi essencial na caminhada do jovem.
Nesse período, uma pergunta se fazia presente: “‘Por que o padre nunca falta à missa e eu, por vezes, falto?’. Essa era uma grande questão para mim. É curioso como a disponibilidade dos sacerdotes me tocava de modo curioso”, argumentou.
A proximidade com a Igreja era vista com bons olhos pelos pais, Marisa e Jorge Tavares, que, apesar de não serem presentes na vida comunitária, sempre participavam das celebrações.
“Certa vez, ainda nos meus 14 anos, minha mãe perguntou se era isso mesmo o que eu queria. Neguei. Achava muito cedo para dizer alguma coisa tanto para ela quanto para mim mesmo. Sentia-me atraído pela ideia, mas ainda não sabia se era realmente isso”, contou.
Até que chegou o período de estudos, o tão sonhado vestibular. Estudar sempre fez parte da vida do jovem Leandro, o qual era muito incentivado pelos pais. Tal esforço resultou em recompensa: passou para o curso de engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Nessa época, era um jovem comum, dando passos em direção ao futuro, namorando e vivendo.
A vocação ainda era uma realidade presente nas conversas familiares, mas não tão forte como antes. “Eu queria muito passar, porque a ideia do estudo estava mais na minha cabeça do que a de ser padre. Mas assim que passei, tive a sensação do dever cumprido. Estava satisfeito. Porém, foi aí que o tema da vocação voltou com muita força”, recordou.

“A primeira melhor noite de sono da minha vida”
Para isso, era preciso resolver algumas questões: a primeira era sobre quais seriam seus diretores espirituais, o que foi fácil de resolver, uma vez que os padres Luis Carlos e Edney marcaram a vida do jovem. A segunda era sobre a namorada, que resistiu por algum tempo, mas que logo foi vencida.
A terceira e mais difícil eram os pais. “Duas coisas me passavam na mente: a sensação da certeza de que era isso mesmo o que eu queria, mas também a de me passar por mentiroso, uma vez que neguei e escondi a minha vocação deles. Imaginei que eles fossem ficar avessos a essa ideia, o que realmente aconteceu, pois viram eu me lançar mais longe nos estudos”, ressaltou.
Sobre esse período, o sacerdote recordou que “não foi fácil, foi bem dolorido, embora fosse um tempo cheio de expectativas e alegrias. Tranquei a faculdade no quarto período, e entrei no seminário em 2004. Carregava a perspectiva espiritual de servir a Jesus com alegria, ao mesmo tempo em que tinha no coração o pesar da saída conturbada de casa. Entrar no seminário foi a primeira melhor noite de sono da minha vida, porque eu estava no lugar que eu sempre deveria estar”, lembrou.
Oito anos depois do ingresso no Seminário Arquidiocesano de São José, veio a ordenação sacerdotal, que aconteceu no dia 14 de abril de 2012, às vésperas da Oitava de Páscoa. Mas, Deus ainda havia reservado outra surpresa: “No meio de tudo isso, Deus me deu como presente a conversão dos meus pais. Então, eles retornaram a fé de maneira muito intensa, e tive o apoio do meu pai naquilo que ele dizia não entender. Não pude ter presente melhor do que esse. O tempo de seminário me mostrou o que é a Igreja: quanto mais a gente serve, mais a gente se encontra na vocação”, finalizou.


O seminário
Antes mesmo da ordenação sacerdotal, padre Leandro Lenin já havia sido chamado para uma grande missão: acolher aos jovens que, assim como ele, desejavam entregar a vida por amor a Cristo. Para estes, o primeiro passo no discernimento vocacional é o Seminário Propedêutico Rainha dos Apóstolos, porta de entrada para a caminhada vocacional rumo ao sacerdócio.
Padre Lenin afirmou que “fui o único de minha turma a não me mudar do seminário. Assim que fui ordenado, permaneci. Lá, é preciso estruturar a identidade sacerdotal, que veio pelo sacramento, mas tem de ser expressa, e isso demanda certa preparação de nossa parte. Então, fazemos um paralelo da própria vida. Acreditando que a gente tenha acertado nos próprios passos, lembrando o tempo formativo, buscando auxílios em outros padres formadores e, amparados pelos documentos da Igreja e pedidos do bispo, a gente faz da gente mesmo uma espécie de oferta àquela juventude”, sublinhou.
Ao mesmo tempo em que cuidava das vocações no seminário, padre Lenin também dedicava os fins de semana à vida paroquial. Paralelo a essa missão, ele viveu uma experiência pastoral no Santuário de Nossa Senhora da Penha, na Penha, durante três anos. Em seguida, ele recebeu a missão de cuidar das capelas de Nossa Senhora Aparecida, da Libertação e de Fátima, localizadas no Morro do Turano, próximas ao seminário.
Atuou também como vigário paroquial da Igreja de São Tiago, em Inhaúma, por seis meses, onde ficou até o dia da viagem. Segundo ele, “isso complementava e muito a experiência do seminário, o qual nos deixa numa função específica. É como se estivéssemos desenvolvendo apenas uma habilidade do sacerdócio, o que já exige demais, mas não o completa. Então, eu sempre gostei de atender às pessoas, visitar os enfermos, conversar com aqueles que necessitavam”, afirmou.

Jornada Mundial da Juventude
Logo depois da ordenação, chegou o ápice para a Arquidiocese do Rio de Janeiro: a Jornada Mundial da Juventude (JMJ), em 2013, um marco para os cariocas e brasileiros. A JMJ foi marcada pela inesperada renúncia do então Papa Bento XVI e a expectativa pela chegada do novo Pontífice, Francisco.
Sobre essa experiência, o padre destacou: “Durante a Jornada, na experiência sacerdotal, temos o confessionário. Ele estava trazendo pessoas que há muitos anos estavam distantes da fé. E, ao olhar o exemplo do Papa Francisco e a acolhida que a Igreja do Rio fez à juventude, se reacendeu no coração dessas pessoas a esperança. O confessionário era, diariamente, visitado por cristãos que diziam: ‘estou voltando’. Isso dava muita alegria ao coração”, completou.
Nesse evento, padre Lenin atuou como diretor do Setor de Preparação Pastoral e as Catequeses, as quais foram presididas em 23 línguas, espalhadas por 273 lugares da cidade e que contaram com seis mil voluntários, cujo principal objetivo era fazer o Rio de Janeiro rezar e preparar os jovens peregrinos para a vinda do Papa.
Uma das experiências mais tocantes aconteceu às vésperas do início da JMJ. “Estava lanchando com alguns voluntários. Por volta das 21h, meu telefone tocou e recebi a notícia de que, no meu setor, havíamos perdido em torno de dez mil inscrições, a partir das quais indicaríamos o destino da catequese de cada peregrino. Com isso, o sistema travou e os jovens estavam retirando os kits no Sambódromo, e só voltaria ao normal quando colocássemos o destino da catequese de cada um. Foi um desespero”, frisou.
Mas a solução veio rapidamente a partir da união. “Comecei a ligar para diversas pessoas para que nos ajudassem. Padres e seminaristas viraram a noite dentro do Comitê Organizador Local (COL), além de alguns jovens que haviam chegado de viagem. Ao todo, conseguimos 60 pessoas em menos de duas horas. Eu precisava animar aqueles jovens. Então, de hora em hora, rezávamos, cantávamos, fazíamos brincadeiras e sorteios, louvávamos. Era uma verdadeira troca de experiência, mas tudo para que não dormissem. Foram 12 horas de trabalho, mas conseguimos”, acrescentou.

Igreja e esporte
Outros dois eventos marcantes para o Rio de Janeiro, após a JMJ, foram a Copa do Mundo de futebol, em 2014, e as Olimpíadas, em 2016. Com relação ao primeiro, o sacerdote ressaltou que “a instituição FIFA é avessa à religiosidade. Então, buscamos realizar o trabalho de outras formas, através da assistência aos turistas, com missas em diversas línguas, celebrações pré-jogo. Um dia antes da entrega do Estádio do Maracanã à FIFA, fizemos uma oração, junto às demais denominações religiosas”, contou.
Logo após, teve início o período olímpico. Na busca do transcendente, dando oportunidade aos atletas para celebrarem seus momentos de orações em um local próprio da Vila Olímpica, o Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos escolheu o padre Leandro Lenin para ser o responsável e organizador do Centro Inter-religioso da Vila dos Atletas.
Através desse espaço, os atletas tiveram a possibilidade de participar de momentos de oração, missas, cultos, confissões e aconselhamento espiritual a qualquer tipo de expressão religiosa. Além disso, padre Leandro acompanhou o time Brasil durante os Jogos Pan-Americanos de Toronto, em 2015, dando apoio espiritual à delegação brasileira.
De acordo com ele, “esse é um universo muito grande e também muito necessitado da presença de Deus. Nas Olimpíadas, tivemos as portas mais que abertas ao mundo religioso, porque isso é parte da composição dos atletas. O esporte move pessoas, move uma nação que se sensibiliza com a vitória, com a derrota desse esportista. Se o atleta estiver firme no corpo, mas saudável na alma, certamente ele será uma boa influência”, destacou.

Nova missão
Nesse momento em que é chamado a viver mais uma nova realidade, padre Lenin afirmou que “foi um tempo de humilde extravagância. O trabalho realizado em conjunto sempre dá mais frutos do que feito sozinho. A capacidade da Igreja em trabalhar em grupos sempre enriquece, porque vemos pessoas motivadas e que vivem um sonho que não é seu, mas de Deus. Quando trabalhamos juntos por um mesmo ideal, nos tornamos amigos”, pontuou.
Mas, no que depender dele, todo serviço a Deus será realizado da melhor maneira possível. “Carrego o sentimento de gratidão a todas as pessoas que passaram pela minha vida. Em mim, sempre haverá a disponibilidade em querer contribuir com o melhor que eu puder”, finalizou.

Fonte: http://arqrio.org/noticias/detalhes/5993/padre-leandro-lenin-o-trabalho-realizado-em-conjunto-sempre-da-mais-frutos

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