Brasília,
1º de Agosto de 2014.
Caros párocos e demais responsáveis
pela evangelização da juventude no Brasil.
“Todos aqueles que ouviam o menino
ficavam maravilhados
com sua inteligência e suas
respostas.” (Lc 2,47)
Em diversas partes, as Sagradas Escrituras nos mostram a
força da presença de Jesus que“ensinava como alguém que tem autoridade, e não
como os escribas e fariseus” (Mt 7,28)! Ensinar “com autoridade” é falar
com convicção e coerência. Estes dois elementos são essenciais e
complementares. As verdades ensinadas e defendidas só são escutadas com
respeito, quando aquele que fala empenha-se em viver aquilo que prega. Por
outro lado, este testemunho de vida necessita de fundamentação sólida para ser
mais incisivo e duradouro na vida das pessoas.
Entramos no mês de agosto, mês vocacional. É um momento bem
propício para revisarmos a vivência de nossa vocação. Ao escutar a voz de Deus
que nos chama para um determinado estado de vida e para um serviço qualificado
à humanidade, nos sentimos convocados a fortalecer nossas convicções e a ser
mais coerentes.
Somos tentados e pressionados por todos os lados e o desafio
de viver com coerência a vocação cristã nos impõe aprofundamento da nossa fé.
Dentro e fora de nós existem forças que nos obrigam às decisões. Ao lado de
nossa tendência de comodismo e fuga, encontra-se uma cultura que avança em
diversos aspectos questionando-nos constantemente sobre os fundamentos de nossa
fé.
Articular fé e razão se torna, portanto, um imperativo em
nossa vocação de discípulos missionários de Cristo. Estamos convencidos de que
o processo de amadurecimento da fé exige raízes que lhe garantam consistência,
caso contrário estará fadada a se esvaziar diante das crises e dos
questionamentos que os dias atuais se nos impõem. Assim, também, a Igreja não
admite uma intelectualidade desconectada das outras dimensões da vida humana,
inclusive da dimensão religiosa. O ser humano é belo quando considerado em sua
totalidade!
Mais do que nunca, a Igreja está sendo chamada a entrar no
mundo acadêmico e universitário e exercer sua vocação na história de iluminar a
vida, defender os princípios que a dignificam e defendê-la de ideologias
relativistas, discriminatórias, manipuladoras, tendenciosas, reducionistas. “À
medida que avança o processo de escolaridade, em especial na fase
universitária, os jovens se fascinam pela racionalidade das ciências e
tecnologias, pela eficiência e organização da sociedade produtiva e do mercado,
pelo compromisso com a transformação social, de tal forma que sua fé pode
entrar, em alguns casos, em conflito com a razão; mas pode, também, amadurecer
com a contribuição dessa razão. A ação pastoral deve favorecer a base
intelectual da sua fé para que saibam se mover de maneira crítica dentro do
mundo intelectual, acompanhados de vida cristã autêntica para que possam atuar
responsavelmente no mundo do qual fazem parte.” (Doc. 85 CNBB, 219)
O Encontro de Revitalização da Pastoral Juvenil no Brasil,
acontecido em dezembro passado à luz do Documento 85 da CNBB, ao refletir sobre
a 7a. Linha de Ação – DIÁLOGO FÉ E RAZÃO – definiu, assim, para os
próximos anos, as duas PISTAS DE AÇÃO:
1. criar espaço de diálogo
sobre o tema fé-razão nas comunidades e no mundo acadêmico;
2. fomentar o Setor Universidades, articulando as diferentes experiências já existentes.
2. fomentar o Setor Universidades, articulando as diferentes experiências já existentes.
Nessas prioridades, notamos o pedido para que este diálogo
aconteça tanto nos ambientes eclesiais quanto na universidade, por meio da
força conjunta das experiências que já existem. Ao contemplar nossos
universitários que estão presentes em nossas Comunidades ,
sentimo-nos responsáveis por auxiliá-los a valorizar a razão para amadurecer a
fé; já nos ambientes universitários somos convocados a mostrar que a fé só tem
a somar com as reflexões acadêmicas. Mesmo quando estas são questionadas pela
fé, percebemos nisso um contributo significativo e não um empecilho para o
desenvolvimento e o progresso, afinal de contas a religiosidade é uma das
dimensões intrínsecas ao ser humano.
A Igreja pode ousar mais na missão no mundo da cultura.
Tanto a Universidade quanto as escolas de Ensino Médio estão, em muitos
lugares, carentes da presença da Igreja em sua missão de educadora. Eis algumas
sugestões que poderiam fazer a diferença nestes ambientes:
1) reunir periodicamente
os jovens universitários que frequentam as celebrações eucarísticas paroquiais
e, por meio do acompanhamento de um casal designado para isto, auxiliá-los no
exercício do diálogo fé-razão, capacitando-os como especiais protagonistas
cristãos em suas próprias universidades;
2) motivar os jovens mais engajados da
paróquia a exercitarem a cultura da acolhida e do encontro, organizando
uma espécie de “plantão universitário” na paróquia para atender e orientar os
jovens que chegam de outras cidades e buscam informações, hospedagem,
orientação espiritual;
3) divulgar os documentos e mensagens
da Igreja que versam sobre diversas áreas socioculturais, facilitar sua
aquisição e incentivar a leitura, principalmente entre os jovens, para que
tomem consciência da posição católica frente a todos os campos que atingem a
vida da pessoa humana;
4) criar, a partir dos próprios
universitários engajados na paróquia, subsídios práticos(folders, spots,
vídeos, etc.) sobre os conteúdos fundamentais da Doutrina Social da Igreja para
serem divulgados de maneira rápida nos ambientes eclesiais e universitários,
bem como pelas redes sociais;
5) promover fóruns e seminários nos
estabelecimentos de ensino superior localizados no território paroquial, contribuindo
com aprofundamento de temas mais polêmicos com relação à bioética, política,
economia, cidadania, sexualidade, etc.;
6) visitar periodicamente as universidades
e escolas presentes no território paroquial, criando vínculos e
oferecendo assistência religiosa e serviços pastorais, como missas,
sacramentos, palestras, grupos bíblicos, bênçãos, ensino religioso, iniciativas
ecumênicas, homenagens em dias festivos, atendimentos, etc.;
7) descobrir os professores
universitários que frequentam regularmente a paróquia e recolher suas
sugestões de como a Igreja poderia se fazer mais presente nos ambientes
acadêmicos, contribuindo, assim, com a qualidade da cultura, da formação, das
reflexões, etc.;
8) promover e/ou acompanhar a pastoral
nas universidades presentes no território paroquial, segundo os documentos
e as orientações da Comissão Episcopal Pastoral para a Cultura e Educação,
Setor Universidades, da CNBB;
9) solicitar às universidades para que
incentivem e organizem grupos de alunos estagiários e voluntários para
realizarem projetos sociais nas áreas mais carentes do território paroquial;
10) incentivar a organização da Pastoral da Juventude
Estudantil (PJE) nas Escolas de Ensino Médio e a celebração da Semana do
Estudante (5 a
11 de agosto), segundo as orientações contidas no site www.pjebr.org.
A edificação do Reino pela Igreja e a construção de um mundo
novo, pela sociedade, falam a mesma linguagem quando possuem os mesmos ideais
de vida plena para a pessoa humana e para o bem comum. Fé e razão, religião e
ciência, são elementos intrinsecamente ligados. Alguns temas comuns avançam
quando se somam a força da razão e o valor da fé: democracia, diálogo,
felicidade, transparência, direitos individuais, liberdade, justiça, igualdade,
respeito, vida plena para todos. “A Igreja continua profundamente convencida
de que fé e razão se ajudam mutuamente, exercendo, uma em prol da outra, a
função tanto de discernimento crítico e purificador como de estímulo para
progredir na investigação e no aprofundamento” (Fides et Ratio, 100).
Peçamos a intercessão de Nossa Senhora para que nos sintamos
cada vez mais missionários de uma Igreja edificada na história para exercer sua
missão delicada e primordial de educadora de valores e defensora da vida das
pessoas.
Com estima e agradecido por tudo aquilo que sua paróquia e
estruturas já têm feito a favor dos jovens universitários e das instituições
acadêmicas aos seus cuidados, abraço-os a todos com minhas orações.
Dom Eduardo Pinheiro da Silva, sdb
Presidente da Comissão Episcopal
Pastoral para a Juventude da CNBB
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